quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ARMAS EM FUNERAL - MAJOR ELZA CANSANÇÃO MEDEIROS.



Faleceu ontem terça-feira (8) na sua terra natal, devido a complicações contraídas após a quebra do osso femur motivado por uma queda, a Major Elza Cansanção Medeiros.

Nascida em 1921, no Rio de Janeiro foi a primeira brasileira a se apresentar como voluntária na Diretoria de Saúde do Exército, para lutar na Segunda Guerra Mundial, em 18 Abr 1943. Durante sua vida recebeu várias condecorações, cerca de mais de trinta e cinco medalhas, entre civis e militares, foi a mulher mais condecorada do Brasil.

Carioca do bairro de Copacabana, era filha dos alagoanos Aristhéa Cansanção e Tadeu de Araújo Medeiros, médico sanitarista auxiliar de Oswaldo Cruz durante a campanha contra a febre amarela e descendente em quarta geração de dona Ana Lins de Vasconcelos, a qual fazia questão de chamar de "guerreira alagoana", mãe do Barão de São Miguel e de vários outras figuras ilustres da região. Ana Lins foi o último baluarte da Revolução Nacionalista de 1824. "Lutou até o último dedal de pólvora e foi presa, levada a pé até a cidade de Alagoas (hoje, Marechal Deodoro). Por toda parte em que ela passava, levantava o povo, de modo que ficou pouco tempo presa. A única benesse que pediu foi a de ficar com o filho, que veio a ser o Visconde de Sinimbu, Primeiro Ministro do Império, ocupando todas as pastas, exceto a da Marinha" - dizia, orgulhosa, o Major Elza.

Sempre que falava sobre sua carreira, ela não deixava de lembrar seu vínculo com Alagoas, a ponto de dizer que gostaria que, quando morresse, suas cinzas fossem divididas em deuas metades para que uma ficasse no Rio de Janeiro e a outra em Maceió.

Elza Cansanção Medeiros foi enfermeira reformada do Exército e a primeira voluntária brasileira a se apresentar para a Segunda Guerra Mundial, desta forma, foi a precursora do Corpo de Enfermeiras da Reserva do Exército, todo composto por voluntárias. Considerada a guardiã da memória da Segunda Guerra Mundial, era muito interessada em história criando na capital alagoana um Museu, a partir do qual passou a realizar um trabalho de preservação histórica, com mais de setecentas peças e cinco mil fotografias.

O Major deixou vários livros publicados, entre os quais: Nas Barbas do Tedesco, E Foi Assim que a Cobra Fumou, Dicionário de Alagoanês, Eu Estava Lá e 1... 2... Esquerda... Direita... Acertem o Passo.

No dia 05 Fev 2004, ela assumiu a cadeira número 3 da Academia Maceioense de Letras, em Alagoas, tornado-se assim a primeira mulher militar a se tornar imortal.

Seu sonho era o de poder ser combatente, lutar na linha de frente, mas teve de se conformar em seguir como uma das 73 enfermeiras no Destacamento Precursor de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, pois na época, o Exército Brasileiro não aceitava mulheres combatentes.

Durante a guerra, ela trabalhou nos hospitais de evacuação na Itália, distante do front, em turnos de 12 horas. Segundo o CML, nenhum militar por ela tratado morreu. Atuou como Oficial de ligação e enfermeira-chefe no 7th Station Hospital, em Livorno. Com o fim da guerra, foi dispensada do serviço ativo logo após ao seu retorno à pátria indo trabalhar no Banco do Brasil.

Aulas para pilotar ultraleves


Em 1957, as mulheres foram reconvocadas, podendo vir a ser militares de carreira. Dona Elza então retornou, continuando a trabalhar como enfermeira. De acordo com o CML, Elza era formada em jornalismo e, mesmo tendo trabalhado no Serviço Nacional de Informações (SNI), jamais pensou em abandonar a carreira militar.

Ela aprendeu a pilotar ultraleves aos 60 anos de idade. Deu nos seus livros sugestões importantes para a criação de um Corpo Auxiliar feminino para as Forças Armadas, base para a abertura das Forças Armadas do Brasil à participação das mulheres.

Velório no Palácio Duque de Caxias

O corpo do Major Elza será cremado após o velório, que acontecerá no salão nobre do Palácio Duque de Caxias a partir das 9hs de hoje, quarta-feira (9).



Entre as medalhas que recebeu estão a Medalha de Guerra, Medalha de Campanha, Ordem do Mérito Militar, Medalha Mérito Tamandaré e Medalha Mérito Santos Dumont.


Sobre sua carreira, participação na Segunda Guerra Mundial, condecorações, origens, veja a seguir uma entrevista que ela concedeu ao Portal de Educação do Exército Brasileiro, no dia 07 Out 2003:

"Portal: Foi chamada de louca por se alistar?

Major Elza: Porque diziam que o Brasil não iria para guerra e eu queria brigar sozinha. Mesmo assim, a posteriori, os americanos sentiram falta de enfermeiras e reclamaram ao Exército brasileiro esta colaboração. Assim se tentou criar o Corpo de Enfermagem com as alunas da Escola Anna Nery, mas a diretora da Escola, dona Laís, disse que “enfermeira de Anna Nery não se sujeitaria a ganhar os quatrocentos e vinte mil réis, então, oferecidos. Deste modo, o Exército se viu na contingência de, lembrando-se da “louca”, abrir um voluntariado. Ou seja, o Corpo de Enfermeiras da Reserva do Exército foi todo criado com voluntárias.

Portal: A senhora, portanto, foi a número um da lista de voluntárias alistadas? Existe este documento aqui no Arquivo Histórico?

Major Elza: Este documento ficou perdido em Recife, porque, quando eu fui para o nordeste, levei uma carta do General Souza Ferreira, dizendo que eu deveria ser encaixada, onde quer que eu estivesse. Entreguei a carta na Sétima Região Militar e eles perderam. O documento mais antigo referente à minha ligação com o Exército é uma autorização do Hospital de Recife, para que eu estagiasse na clínica de cirurgia do hospital. De lá, quando criaram o Corpo de Enfermeiras, o General passou um telegrama para mim – telegrama este que também se extraviou – dizendo expressamente: “Aberto voluntariado enfermeiras Exército. Caso continue de pé seu oferecimento, retorne imediatamente”.

No dia seguinte, às quatro horas da tarde eu me apresentava aqui no Ministério do Exército. Foi uma surpresa muito grande para o General Souza Ferreira, pois, vim do Recife para o Rio em menos tempo que o telegrama enviado, e ele disse: “Poxa, você está com vontade mesmo, hein?”.

O General havia assumido comigo o compromisso de me mandar sempre na frente para os lugares mais difíceis.

Portal: Por quê?

Major Elza: Porque eu queria brigar contra o alemão.

Portal: Algum motivo especial?

Major Elza: Eu, na verdade, tinha um problema pessoal sério. Meu único irmão, meu padrinho, morreu por causa do conselho de um alemão. O conselho consistia em que ele colocasse a cabeça na água quente e na água fria. Ele teve um derrame cerebral com 17 (dezessete) anos. Então, desde menina, eu queria ver o diabo na minha frente, mas não queria ver um alemão.

Mas, voltando ao assunto. Quando houve o curso preparatório para as enfermeiras, o General me disse: “olha, agora vai depender de você. Se você se classificar, continua de pé o meu compromisso, se você não se classificar, nada feito”. E eu disse: “Ok, deixa comigo”. Nós fizemos o curso e de lá eu saí empatada com mais duas colegas, com a média 9,5 (nove vírgula cinco). As três em primeiro lugar.

Portal: Em que consistia o curso?

Major Elza: Foi um treinamento de 4 semanas, com as coisas mais absurdas: microbiologia; francês (para trabalhar com americanos); ordem unida; e o treinamento militar propriamente dito, com a legislação militar, treinamento físico (na Fortaleza São João). Pela manhã era o estágio técnico e prático, no Hospital Central do Exército e na Policlínica (na época só existia uma).

Portal: Todas já eram enfermeiras formadas?

Major Elza: Todas deviam ser portadoras de diplomas, porque quando houve a recusa da Escola Anna Nery, eles se viram na necessidade de aceitar qualquer diploma de enfermagem e fizeram esta reciclagem dentro do Exército. Nós tínhamos, na época, 3 tipos de cursos: o de profissionais, de 3 anos; o de Samaritanas, artigo 99 de enfermagem, ou seja, o supletivo de enfermagem, de 3 anos em 1; e o de Voluntárias Socorristas, com duração de 3 meses. O Exército se valeu destas enfermeiras. Nós tivemos, da FEB, apenas 6 enfermeira profissionais, vindas de Alfredo Pinto, Cruz Vermelha e uma de Anna Nery. Já a Aeronáutica, ofereceu o salário de oficial, ou seja, 1 conto e duzentos, então as enfermeira de Anna Nery foram para a Aeronáutica.

Portal: Quantas enfermeiras foram enviadas para a Segunda Guerra?

Major Elza: Foi um total de 73 mulheres: 67 do Exército e 6 da Aeronáutica.

Portal: Quando vocês chegaram lá, quais as dificuldades por que passaram?

Major Elza: A primeira delas foi a barreira da língua. Seguiram do Brasil 5 enfermeiras antes da tropa, das 3 que tiraram o primeiro lugar eu era a terceira, por conta da idade, mas na hora de embarcar, como o General Souza Ferreira havia assumido um compromisso comigo, eu fui primeiro. Lá chegando, a nossa situação foi muito difícil, pois, nós não tínhamos posto. Saímos com um “tracinho” no braço. Éramos enfermeiras de Terceira Classe da Reserva do Exército: Círculo de Oficiais. Isso não existe, foi uma coisa louca que criaram, em função da mulher do Dutra, dona Santinha. Esta senhora era contra nós e não permitiu darem-nos posto, dizia que éramos “prostitutas que iam para a guerra fazer a vida”. Imagine, ganhando quatrocentos e vinte, depois, quinhentos e vinte mil réis.

A situação instaurada acarretou problemas muito sérios durante toda a nossa viagem: não podíamos ir para o restaurante de oficiais, por não sermos oficiais; não podíamos ir para o de praças, por não sermos praças; para os restaurantes de civis não íamos porque éramos militares; a solução mais simples era ficarmos sem comer, mesmo.

Quando fui ao nordeste me despedir, recebi de presente do Presidente da Cruz Vermelha de Recife, dono da fábrica de biscoitos Pillar: duas caixas de biscoito de 5 kg e uma pilha de caixinhas de papelão com petits fours e salgadinhos, com isso nos valemos até chegar em Alger.

Ao chegar em Alger, estava lá o Embaixador Vasco Leitão da Cunha, com os dois assistentes dele, os Gurgel Valente, Maurinho e Mozart, filhos do dentista que tratava da minha mãe, quer dizer, amizade de família desde o meu pré-nascimento, e Vasco Leitão da Cunha, amicíssimo de meu pai, que não saía lá de casa. Quando me viram fizeram um escândalo: “O que você está fazendo aqui? Como é que seu pai deixou?”. E eu respondi: “Ele não deixou. Cortou relações comigo”. Daí eu contei para o Vasco tudo o que estava acontecendo, os problemas que enfrentávamos. Ele providenciou, então, um hotel para nós, com todo o conforto, embora no quarto dos empregados.

No dia 14 de junho, dia do desfile dos franceses livres, os alemães vieram pelo rádio dizer que se encontravam e Alger as enfermeiras brasileiras, e deram nossos nomes, dizendo que tínhamos destino à Nápolis. Desta forma nós soubemos para onde íamos. Veja, o inimigo que nos deu a notícia. Coisas de brasileiros desorganizados.

Portal: Qual foi a realidade do serviço das enfermeiras durante a Guerra?

Major Elza: As guerras evoluem conforme o progresso mundial. A Primeira Guerra foi uma guerra de trincheira, a Segunda foi uma guerra de patrulha, ou seja, as incursões no front eram feitas com patrulhas que guerreavam entre si, atingindo seus objetivos. As patrulhas saíam e os batalhões acompanhavam na retaguarda, tomando as posições. Não é a guerra que se vê em cinema, não. É diferente.

A nossa situação foi muito difícil, pois, tivemos um treinamento da Guerra de 14-18, guerra de trincheira. Nós tínhamos no Brasil a Missão Militar Francesa nos treinando, portanto, o aprendizado daqui não valeu para lá, nós tivemos que aprender tudo de novo. Inclusive o armamento era completamente diferente. O armamento usado aqui era o Garand, lá era a Springfield, a bazuca, o morteiro. O morteiro era uma arma desgraçada, para mim é a pior arma de uma guerra. O morteiro é de uma rapidez muito grande de tiro. O que você nada mais tem que fazer é pegar a granada e colocar na boca do tubo e tirar a mão fora. Não tem que puxar gatilho nem coisa nenhuma. É soltar, ela bate embaixo e sai. Eram chuvas de morteiro noite e dia.

Os ferimentos que chegavam ao hospital eram os mais estranhos possíveis, coisas com as quais não tivemos contato durante o treinamento, claro. Os mais graves eram as mutilações, estes eram levados para o Field Hospital, o hospital mais avançado da linha de frente. Os feridos que vinham para a retaguarda eram de segunda instância.

Portal: Como a senhora se relacionava com os alemães feridos?

Major Elza: É o seguinte, o ferido não tem posto nem nacionalidade. Quem tem prioridade é a doença. Eu fui lutar contra os alemães, mas a saúde do ser humano é outra coisa. Eu fui contra a mentalidade e a idéia alemã. Na verdade, os alemães eram os feridos mais obedientes e mais tranqüilos que nós tínhamos. Porque eles estão acostumados a obedecer. Para exemplificar, naquela época o remédio principal era, além da penicilina, a sulfa. Para cada grama de sulfa se dava dois gramas de bicarbonato. Cada pílula de sulfa era de meio grama e de bicarbonato meio grama. Então a primeira dose de sulfa a se dar são oito gramas, portanto, dezesseis comprimidos de sulfa e trinta e dois de bicarbonato, que o desgraçado precisava tomar de uma vez só. O brasileiro sempre reclamava, o alemão não. Você entregava o monte de comprimidos, ele arregalava os olhos, pegava a caneca de líquido, enchia a boca e engolia tudo de uma vez.

Portal: Qual a maior dificuldade que a senhora enfrentou?

Major Elza: Olha, vou te dizer, eu não enfrentei dificuldades porque meu pai era médico. Eu fui criada acompanhando papai em tudo. Eu conhecia a parte de medicina mais que a enfermagem. Além do mais, eu estava na função de enfermeira chefe. A maior dificuldade foi controlar minhas ilustres colegas.

Portal: Como assim?

Major Elza: Sempre tem a dor de cotovelo no meio, não é? Nós tínhamos algumas colegas funcionárias do Ministério do Exército, que se achavam, por isso, no direito de certas prioridades, regalias. O nível social não era homogênio. Sei que tivemos alguns problemas e eu me vi obrigada a dar vinte dias de cadeia para quatro colegas.

Portal: O que elas fizeram?

Major: Elas saíram com a viatura do hospital e com o subchefe do hospital para a inauguração do hotel brasileiro em Florença, levando um passe para voltar até às duas horas da manhã do dia seguinte. Acontece que no dia seguinte elas não apareceram. Os americanos me ligaram perguntando sobre as enfermeiras. Eu fui perguntar ao subchefe. Ele virou-se para mim e disse: “você é a chefe, você que tem de dar conta”. E eu disse: “Então está bem”, passei a mão no telefone e liguei para a polícia americana, dizendo: “Prenda quem está na rota”. O subchefe ficou apavorado, não esperava que eu mandasse prendê-las. Com isso, elas pegaram vinte dias de cadeia e oito de reclusão na área hospitalar. Não podia admitir irresponsabilidade.

Portal: Como a senhora chegou ao posto de Major?

Major Elza: Bem, eu era Primeiro Tenente, passando para a Reserva, obtive uma promoção a Capitão e, finalmente, por invalidez – como sofri um acidente numa cratera durante a Guerra – cheguei a Major.

Portal: O cineasta Vinícios Reis fez o documentário “A cobra fumou”, concentrando o tema no que representou para a vida de cada voluntário a participação na Segunda Guerra. O que representou a Guerra para a senhora?

Major Elza: A libertação do meu país. Nós vivíamos numa ditadura. Indo libertar a Itália da ditadura, nós nos libertávamos. Eu sempre fui muito patriota. Eu tenho de hereditariedade o patriotismo. Na minha família tem uma coincidência muito engraçada: de quatro em quatro gerações surge uma mulher guerreira. A primeira foi Miraubí, Maria do Espírito Santo Arcoverde, a princesinha Tabajara, que lutou por seu homem: Gerônimo de Albuquerque, cunhado de Dom Duarte Coelho, da Capitania de Pernambuco.

Em quarta geração de Miraubí vem dona Gerônima de Almeida, esta lutou contra os holandeses, foi presa e condenada à morte e teve a vida trocada por dez pães de bom açúcar. O açúcar naquela época valia mais que ouro. Um pão de açúcar tem o feitio desse morro (morro do Pão de Açúcar) invertido na forma de madeira, onde se colocava o melaço para decantar; depois viravam e ficava no feitio do Pão de Açúcar. Daí o nome deste morro ser Pão de Açúcar.

Em quarta geração de dona Gerônima vem dona Ana Lins de Vasconcelos, a guerreira alagoana, mãe do Barão de São Miguel e de vários outros. Ela foi o último baluarte da Revolução Nacionalista de 1824, nas Alagoas. Dona Ana lutou até o último dedal de pólvora e foi presa, levada a pé até a cidade de Alagoas (hoje, Marechal Deodoro). Por toda parte em que ela passava levantava o povo, de modo que ficou pouco tempo presa. A única benesse que ela pediu foi a de ficar com o filho, que veio a ser o Visconde de Sinibu, Primeiro Ministro do Império, ocupando todas as pastas, exceto a da Marinha. Tenho muita admiração por ele. Em quarta geração de Dona Ana sou eu. E já nasceu uma outra, Maria Antônia, que está fadada a ser a quinta guerreira.

Portal: Major, com o que a senhora trabalha hoje?

Major Elza: Eu tenho dois trabalhos sérios: um é este da preservação da memória histórica, que eu faço captando a imagem fotográfica, a história através da fotografia. O segundo é um museu em Maceió, que eu criei. O museu era meu até a semana passada. Eu consegui agora implantá-lo no Exército e passou a ser um museu militar: Museu da Segunda Guerra Mundial, em Maceió.É o Museu da Segunda Guerra e não só da FEB, pois, eu tenho um materia retirado do fundo do mar do navio Itapajé, torpediado em Maceió. Então, como também tenho material da Marinha, não posso dar ao museu só o nome da FEB. Este museu iniciou em uma sala de 5 x 8. Vê se pode. Armei 12 painéis em labirintos com as fotos e as armas embaixo dos painéis. Hoje estou numa sala de 90m2, que não me cabe porque o museu cresceu muito, hoje eu tenho cerca de setecentas peças, fora as fotos.

Portal: Que maior riqueza, em memória, a senhora guarda no Museu do Rio de Janeiro?

Major Elza: Aqui? Aqui não tenho nada. Tudo eu levo para Maceió. Em Maceió tem peças preciosíssimas.

Portal: O que há no Museu do Rio de Janeiro?

Major Elza: Aqui eu tenho a parte fotográfica, cerca de cinco mil e poucas fotos.

Portal: Como é feita a recolha dos documentos para o acervo?

Major Elza: Vou pedindo às pessoas amigas fotos que me emprestem. As fotos emprestadas eu trago para cá. Fotografo tudo com uma magnum 3000, preparo os negativos, devolvo os originais e arquivo os negativos.

Portal: E o seu trabalho como escultora? Sabemos que há bustos de militares famosos, inclusive o seu, no Brasil e em outros países.

Major Elza: Olha, só do Marechal Mascarenhas eu tenho umas 40 esculturas por aí afora. Aqui mesmo, me roubaram uma, agora, na Praça Itália. Tenho o busto do Marechal do Ar, Eduardo Gomes, em Bronze, nos seguintes locais: Base do Galeão, Base dos Afonsos e Rio Grande do Norte - Cidade de Eduardo Gomes; e a Estatueta representando uma enfermeira em continência (auto-retrato), prêmio oferecido às primeiras colocadas da Escola de Administração do Exército.

Portal: A senhora sabe que sua farda repleta de medalhas causa forte impressão. Ao todo são 35 medalhas, não são? Quais as mais significativas?

Major Elza: Ao todo, entre militares e paramilitares: 36. As mais importantes:

Ordem do Mérito Militar - Grau Cavaleiro – 1979.

Medalha da Ordem do Mérito Militar - Promovida a Oficial em 1989.

Medalha de Campanha da Força Expedicionária Brasileira.

Medalha do Mérito Tamandaré – Ministério da Marinha.

Meritorius Service United Plaque - Exército Americano - USA – 1944.

Medalha de Guerra –1945.

Medalha do Soldado Polonês Livre.

Medalha Ancien Combatant du Tatre du Operacion du L’Orope – França. Fui a única mulher a receber.

Portal: O que representa para a senhora guardar a memória da Segunda Guerra?

Major Elza: Deixar uma página da História do Brasil para o futuro, porque, infelizmente, o brasileiro tem memória curta. Ele não preserva a sua História.

Portal: A senhora possui uma autorização especial para utilizar a sua farda?

Major Elza: Eu como Oficial da Reserva não teria direito ao uso da farda, mas aí eu falei com o General, no tempo, General Tinoco, que era o Ministro, expliquei a situação, e ele disse: “Não, você tem que se apresentar mesmo, porque você representa a FEB”. Então ele me deu uma autorização para que eu usasse a farda em toda e qualquer ocasião em que eu representasse a FEB. Eu sou, digamos assim, um representante da FEB, mas com o friso de Oficial da Reserva na platina como pede o regulamento. Há pouco tempo eu falei com o General Gleuber sobre a necessidade de renovar essa autorização, porque muita gente não acredita. E ele mandou renovar, mantendo a condição de eu usar a farda representando a FEB. Não ando na rua fardada, geralmente eu a levo num cabide e visto na hora de entrar em cena. Acabou o que tenho de fazer, troco na mesma hora de roupa. Eu ando com a cópia do boletim (de autorização) no bolso, se houver dúvida eu tenho um comprovante mostrando que estou autorizada. Hoje em dia ninguém mais me questiona sobre o uso da farda. Todo mundo sabe, todo mundo conhece meu trabalho, sabem que eu procuro levar o nome da FEB, do Exército Brasileiro, o mais alto possível.

Portal: O que representa para senhora todo esse trabalho em nome do Exército Brasileiro?

Major Elza: Isso aqui é a minha casa. Agora vou fazer um testamento com as minhas últimas vontades. Eu quero ser velada aqui. Aqui dentro que passei o maior tempo da minha vida. Quero ser cremada e enrolada na Bandeira Brasileira. Metade das cinzas vão para Maceió e a outra metade fica aqui."


Fonte: "globo.com", "gazetaweb.com" e "Resenha CComSEx".









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