O passado não pode ser esquecido
Israel Blajberg (*)
Neste 21 de fevereiro, quando em 1945 os bravos da FEB foram vitoriosos no quinto e ultimo assalto a Monte Castello, nossos pensamentos voltam-se para aqueles heróis, transcorridos 65 anos.
O nazismo foi derrotado, entretanto mesmo após tanto sofrimento, ainda hoje se enxergam aspectos positivos na ditadura de Hitler, conforme estudo de uma universidade alemã.
A partir de 1942 o Brasil foi covardemente agredido pela Alemanha Nazista. 38 navios mercantes torpedeados, 549 tripulantes e 502 passageiros afogados, 1051 preciosas vidas brasileiras.
O Monte Castello havia sido atacado 4 vezes por tropas brasileiras e pela Divisão de Montanha americana, em novembro e dezembro de 1944.
A infantaria avançava penosamente pela neve e lama, sob um fogo pesado. Clássica situação dos manuais: o inimigo tem a vantagem da altura. Mesmo assim alguns pelotões conseguiram atingir o cume do monte, tendo de se retirar após sofrer pesadas perdas. Um dos batalhões teve 15% de baixas entre mortos, feridos e desaparecidos.
Os tenentes Apollo Miguel Rezk e Moises Chahon, que comandavam pelotões na cota 958, e o tenente Gervasio Deschamps, que subira com parte de seu pelotão continuaram a resistir - embora a ordem fosse para recuar.
A vitória final veio ao cair da tarde do dia 21, com apoio do 1°. Grupo de Caça, o Senta-a-Pua, e da Artilharia Divisionária.
O 1°. RI - Regimento Sampaio finalmente conquistou as casamatas da cota 977 do Monte Castello, resistindo à fadiga, a estafa e ao frio, e ainda tendo de cavar fox-holes para a eventualidade do contra-ataque alemão que jamais chegou.
Por bravura em ação, diversos pracinhas foram condecorados com as mais valiosas medalhas brasileiras e americanas, entre os quais o Herói da Reserva, Ten Apollo Miguel Rezk, Cmt Pel da 6ª. Cia, que recebeu a Silver Star Medal, junto com Chahon e Gervasio, e o Capitão Valdir Moreira Sampaio, Cmt da 5ª. Cia do 2°. Btl, que recebeu a Bronze Star Medal, todos do Regimento Sampaio.
O Brasil se orgulhou dos seus pracinhas, que enfrentaram os nazistas na neve das escarpas sob fogo de metralhadoras e morteiros do alto, levando apenas o armamento, a própria ração, e a coragem exemplar.
Neste 2010 que marca os 65 anos do final da 2ª. Guerra Mundial, o 21 de Fevereiro ganha significado ainda mais relevante. Como farol na escuridão lembra tantos anos depois que o mesmo perigo ainda ronda ameaçador.
Quando um chefe de estado emula novamente os pérfidos postulados nazistas, cabe perguntar se as lideranças democráticas mundiais pretendem novamente esperar até que seja tarde demais. Hitler não tinha a bomba atômica.
As datas recordatorias se sucedem, Noite dos Cristais de novembro de 1938, invasão da Polônia em setembro de 1939, sem que o Mundo desperte.
Elie Wiesel, Premio Nobel da Paz de 1986 e sobrevivente de Auschwitz, em sua obra interpreta o canto de uma geração perdida:
“... desde o fim do pesadelo rebusco o passado ... quanto mais longe vou, menos compreendo ... talvez não haja nada a compreender. ..”
A Humanidade segue na corda bamba, sem conseguir entender que o compromisso de Wiesel, originado no sofrimento do seu povo, se amplia para abarcar todos os povos e raças oprimidas, e não se prende apenas ao passado, mas, o que é pior, ao futuro.
Passadas mais de 6 décadas, o significado da batalha de Monte Castelo está cada vez mais atual.
Mas ainda há tempo. Novamente, é como se a cada dia estejamos lutando contra os mesmos inimigos, lançando outra vez as 4 primeiras investidas contra o mal encastelado no alto da crista, tentativas plenas de sacrifícios e perdas, mas com a certeza de que a vitória sofrida um dia chegará.
Por isso é tão importante que a cada ano sejam lembrados os combatentes de Monte Castelo, que com destemor ensinaram preciosa lição, deixando-nos seu legado para defender.
(*) – iblaj@hotmail. com
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