domingo, 31 de janeiro de 2010

PARA REFLEXÂO - EXERCÍCIO DO PODER.

http://www.clubemilitar.com.br/site/pres/revista/435/3.pdf

Palavra do Presidente

Exercício do Poder

Aluta pela dominação faz parte da natureza humana. Desde tempos imemoriais, o homem busca, de alguma forma, a supremacia sobre seus semelhantes. O homem civilizado pouco difere do ser primitivo no que diz respeito às artimanhas usadas para alcançar o poder. Vale-se de expedientes mais requintados, por certo, mas é capaz de utilizar métodos os mais diversos para subjugar e, mesmo, destruir seus competidores na luta pelo domínio do grupo a que pertence. Normalmente, após atingir seus objetivos, vai comprometendo, através de seu comportamento, os valores maiores que argamassam as normas sociais de conduta daquele grupo. É o conhecido fenômeno do poder corrompendo pessoas e instituições.

Sob esse ponto de vista, tem de ser encarada, até como natural, a prolongada luta do PT para alcançar a Presidência da República, tanto quanto a distância que se observou entre a expectativa e a realidade. A ideia básica que prevalece nas sociedades civilizadas é a de que quem exerce o poder deve servir à comunidade. No caso do PT, a essa expectativa somava-se outra: a de que novos métodos na prática da política seriam implantados, esperança fundamentada em uma longa pregação de moralidade e de repulsa aos desvios praticados pelos partidos até então no poder.

Com efeito, havia, mesmo entre os que não se alinhavam ideologicamente com o PT, uma esperança, pelo menos, de que os métodos usados na ação política seriam aperfeiçoados. Aí, veio a grande desilusão, e veio rapidamente. O partido que propugnava por uma renovação saneadora nos costumes políticos brasileiros envolveu-se, em pouco tempo, em uma série de escândalos, sempre seguidos de mentiras, direcionadas para a tentativa de encobri-los ou de livrar a responsabilidade do Presidente e de sua Chefe da Casa Civil. Mostrava-se, assim, que, muito mais do que curar a doença da corrupção, interessava abraçá-la com todas as forças, sempre que isso facilitasse a permanência no poder.

Enumerar os escândalos que tiveram o PT como protagonista seria enfadonho. Foi o assassinato mal esclarecido do prefeito Celso Daniel, foi o caso Waldomiro Diniz, foi o mensalão, foram os dólares na cueca, foi a quebra do sigilo bancário do caseiro, foram os aloprados de São Paulo, foi o acusado de corrupção que não podia ser investigado por não ser pessoa comum, foram um sem número de injustificáveis desvios éticos praticados por quem se propunha a moralizar a política.

Com o Presidente da República, aconteceu fenômeno semelhante, porém de desenrolar mais lento. O homem pragmático que expediu a "carta aos brasileiros" e teve a sabedoria de seguir uma política econômica ortodoxa, contrariando a expectativa da maioria de seu Partido, foi, pouco a pouco, sendo substituído por um dirigente arbitrário, capaz de emitir declarações muito pouco apropriadas para o Chefe de Governo que se declara imbuído de ideais democráticos. Nos últimos dois anos do segundo mandato, então, tudo só fez piorar. À tendência crescente em tomar atitudes despóticas, somou-se um assustador populismo que parece nunca encontrar seu limite e que ameaça formar, agora sim, uma herança maldita para o próximo Governo.

Os sinais de autoritarismo, bem como o atropelo dos bons costumes, hoje, estão bem evidentes: o anúncio, fora de época, de que a França havia vencido a concorrência para a venda de caças à FAB; as investidas impolidas contra a imprensa; as interferências indevidas em uma empresa privada – a Vale do Rio Doce; o início antecipado da campanha eleitoral, sem nenhum pudor e ao arrepio da lei; as críticas ásperas aos órgãos de controle – TCU, Ministério Público etc.; os ataques grosseiros a quem ouse discordar de suas posições – os críticos do "Bolsa Família" foram taxados de imbecis e ignorantes; o uso sem pejo da propaganda política – um amigo, com muita razão, observou: "a popularidade de Lula se equilibra no binômio propaganda e crédito".

Todos esses fatos, envolvendo o Presidente e seu Partido, mostram, à evidência, que o exercício do poder costuma produzir efeitos devastadores sobre pessoas e organizações não preparadas para tal tarefa. Qualquer boa intenção anterior é rapidamente destroçada pela ânsia incontrolável de se perpetuar no Governo. Existem as exceções, formadas pelos verdadeiros estadistas, que sabem colocar o futuro de sua pátria acima de seus interesses pessoais, mas, lamentavelmente, para nós, brasileiros, não é disso que estamos tratando na presente conjuntura.

General-de-Exército Gilberto Barbosa de Figueiredo

Presidente do Clube Militar

Nenhum comentário:

Postar um comentário