'A miopia estratégica e a indigência militar são as maiores ameaças à soberania do Brasil'.
Artigo do leitor Luiz Eduardo Rocha Paiva.
Mais uma vez, nossa política exterior usou de "dois pesos e duas medidas", deixando a Nação em dúvida sobre quem dá o tom nos assuntos de América Latina. O profissional Ministério das Relações Exteriores ou o ideológico "assessor especial de assuntos internacionais"? O governo omitiu-se quando o presidente Chávez propôs à Rússia instalar bases na Venezuela, em sua recente visita àquela potência. O Brasil passa a imagem de ator terceiro-mundista, agindo constantemente a reboque do presidente venezuelano e de seus aliados - Evo e Correa - todos os três peões do Foro de São Paulo e grandes óbices à integração regional. Esse perfil não credencia o Brasil como líder capaz de conduzir a integração latino-americana.
Há, nitidamente, o fator ideológico na posição adotada pelo País. Existem duas linhas de pensamento no governo, uma social democrata e outra socialista radical, que segue as estratégias do Foro de São Paulo para a tomada do poder e implantação de regimes totalitários e internacionalistas na América do Sul. O segmento socialista ocupa a Casa Civil, o Ministério da Justiça, a Secretaria de Comunicação de Governo, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Assessoria Especial de Assuntos Internacionais, além de outras instâncias do Executivo. Esse setor não tem lideranças nacionais expressivas e precisa contar com o presidente da República, que parece observar a evolução dos acontecimentos para adotar, no futuro, a linha com maiores chances de prevalecer.
As bases colombianas, mesmo usadas pelos EUA, não seriam um problema se o Brasil dispusesse de poder militar à altura da posição que pretende ocupar no cenário internacional. O que nos ameaça é a nossa fraqueza, pois "entre outros males, estar desarmado significa ser desprezível" (Maquiavel).
Nas relações internacionais, o poder do mais forte é aplicado sempre que estão em jogo interesses importantes ou vitais. Se a opção militar for necessária para resolver um conflito, uma potência empregará as Forças Armadas desde que o oponente e seus possíveis aliados não tenham capacidade de dissuasão. Assim fizeram os EUA nos Balcãs, no Oriente Médio e na Ásia Central, e assim farão na Amazônia se o país não integrar a região. As Forças Armadas brasileiras estão totalmente incapacitadas para resistir à intervenção militar de potências, em face do absoluto e indesculpável desprezo de sucessivos governos pela defesa nacional. Em que pese o admirável valor moral e profissional do militar e da tropa, que mantêm o compromisso com a Nação, a crença em seus ideais e o amor às Instituições, a despeito de toda adversidade, as exigências do campo de batalha atual estão, e continuarão por muito tempo, bem acima do nível de preparo e equipamento de nossas Forças.
As sociedades das potências ocidentais atingiram um elevado nível de vida e consomem imensa quantidade de recursos, que seus países não podem prover a partir dos próprios territórios ou precisam tê-los como reserva estratégica. É interesse vital garantir o acesso privilegiado a matérias primas e, para isso, projetam poder político-militar sobre áreas detentoras de tais recursos. Assim, precisam manter o status de potências dominantes para controlar regiões de alto valor geopolítico ou negá-las a seus rivais.
Na Amazônia, as potências ocidentais aplicam uma estratégia tácita e velada, desde o início dos anos 90, para impor-nos a soberania compartilhada na região. São ações sucessivas exitosas, pois os governos a elas se dobram voluntariamente, negociando soberania por interesses menores e tornando efetiva e interna uma ameaça antes latente e distante. É incoerência preocupar-se com as bases em tela e não ver ameaça na demarcação de dezenas de imensas terras indígenas (TI) na faixa de fronteiras, onde o índio é liderado por ONGs estrangeiras financiadas por potências alienígenas, inclusive os EUA. Nessas terras, haverá grandes populações indígenas em algumas décadas, que não se sentirão brasileiras por não estarem integradas à Nação. Há 18 anos, quando foi demarcada a TI Ianomâmi, quem alertava para o risco à soberania nacional era ridicularizado. Hoje, ONU, OEA, ONGs, líderes e povos estrangeiros já não reconhecem o indígena como brasileiro e defendem a autonomia das TI com base em Declaração aprovada na ONU com voto favorável do Brasil. Essas TI desnacionalizadas estão dentro do Brasil, ao contrário das bases colombianas.
Luiz Eduardo Rocha Paiva é General da reserva e professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Publicado na edição de 04 Set 09 (On Line).
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